sábado, 26 de outubro de 2013

Eu já fiz...



Eu já fiz...

Já joguei pedra na lua,
Montei barraca na feira,
Já subi numa mangueira,
Corri descalço na rua,
Já vi pedra que flutua,
Já trabalhei no roçado,
Eu até fui enganado
Por alguns dos meus patrões,
Me meti em confusões
De ficar extasiado.

Eu já fiz muita maldade
E me arrependi depois,
Eu sei que um mais um é dois
Mas não sei o que é a verdade,
Sei que já senti saudade
Por quem nunca mereceu,
Já perdi o que era meu
Pra ajudar a meninada,
Já perdi a madrugada
Pra descobrir quem sou eu.

Já andei de bicicleta
Hoje eu só ando a pé,
Mas nunca perdi a fé,
Me tornei até poeta.
O que nunca se decreta
É o dia em que eu consiga
Compor uma linda cantiga
Pra encantar a donzela,
Montei em cavalo sem sela
E já apartei uma briga.

Eu já chorei de alegria,
Já sorri de tristeza,
Hoje o que eu tenho certeza
É que vou morrer um dia.
Não cometo covardia,
Nem alimento esperança,
Eu não sei como se dança,
Nem sei cozinhar feijão,
Mas dentro do coração
Ainda guardo uma criança.
  
Sei que já estive errado
Outras vezes tive certo,
Me achava muito esperto
Findava sendo abestado,
Já levei um alcoolizado
Pro sossego do seu lar
Eu já tive de contar
Uma mentira bem grande,
Mas mesmo que alguém me mande
Eu nunca irei matar.

Eu já tive namorada
Que me traiu com um amigo,
Já acumulei inimigo,
Já caí numa emboscada,
Já me perdi na estrada
Buscando uma cachoeira,
Já tomei chá na chaleira.
Tenho a canela fina
Hoje eu sigo a minha sina
Vivo sem eira nem beira.

Já tentei mudar o mundo,
Já quis ser super-herói,
Descobri que amar dói,
Mas pode passar num segundo
E mesmo assim lá no fundo
Eu tenho um olhar sereno.
Vi gente tomar veneno,
Pois tanta tristeza sentia,
Já vi muita rebeldia
Dentro de um ser tão pequeno.

Já senti medo do escuro
Hoje o medo é só do homem,
Já sonhei com lobisomem
E olhando pro futuro
Vi que não há ninguém puro
E que eu não sei ao certo,
Se vivo de peito aberto
Ou me fecho para vida?
Já curei muita ferida
Hoje nem sei o que oferto.

Eu nunca pesquei de vara,
Mas tarrafa eu já usei,
Na minha vida eu sei
Que muito quebrei a cara,
Um amigo sempre ampara
Quando se está sofrendo,
Sei que ainda estou devendo
Favores que me foi feito,
Nunca tive preconceito,
Nem a ninguém eu ofendo.

Pedi pro tempo que apresse
Pedi que o tempo parasse,
Pedi a Deus que levasse
Pro mundo a sua prece
Mesmo que ainda houvesse
Quem não quisesse escutar,
Fui coroinha de altar
Hoje eu vivo a procura
De um pouco de aventura
Para poder descansar.

(Sergio Rubens)

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