terça-feira, 1 de outubro de 2013

Crônica do perdão


O perdão

Eu sempre me deparei com o perdão na minha vida. Tinha que perdoar um amigo por ter contado o segredo que pedi “pelo amor de Deus” que guardasse, tive que perdoar meu irmão por ter contado para minha mãe quando eu briguei no colégio, assim como os meus vizinhos chatos que ficavam até de madrugada brigando no meio da rua sem me deixar dormir.

É interessante como a gente vive precisando do perdão, mas não gosta de usá-lo. Há um dito popular que diz o seguinte: “Quem perdoa esquece”. Então quer dizer que pra perdoar eu tenho que sofrer um acidente, bater com a cabeça e perder a memória? Talvez não seja bem assim. Mas então, o que seria de verdade o perdão? O Aurélio diz que o perdão é a remição de uma falta ou ofensa. / Fórmula de polidez empregada quando se perturba alguém. Mahatma Gandhi diz que “os fracos nunca podem perdoar”, já a filosofia yoga defende a ideia de que “perdoar é uma grande virtude que abre o caminho da luz. É uma benção tanto para quem recebe como para quem concebe”.

Na verdade o perdão é algo tão grande e nobre que é praticamente impossível de definir. Talvez, cada uma dessas definições mostre um pouco do que é o perdão, mas nenhuma delas pôde me ser tão clara e tão direta como a lição de moral que recebi de minha prima, quando ela tinha uns dez anos ou menos.

Eu tinha dezoito anos, e como a maioria dos jovens que chega à maioridade, eu me achava o homem mais experiente e sábio do mundo.

Eu estava em casa levando aquela lição de moral da minha mãe, depois de uma confusão que eu tinha arrumado com um namorado de uma amiga (juro que era só amiga), ela dizia que eu não deveria guardar mágoas, que não deveria arranjar inimigos, enfim, aquela ladainha que toda mãe faz e que no fim das contas ela tem sempre razão. Foi então que minha prima chegou perto de mim e perguntou. – Porque você não perdoa ele? Eu respondi na bucha. – Porque eu não gosto dele e ele é meu inimigo! Foi então que ela me surpreendeu e me disse o seguinte: - Mas eu assisti no Chaves, que as pessoas boas devem amar seus inimigos, e quem ama perdoa!


Caramba! Foi um tapa certeiro no meio da minha cara. Eu fiquei simplesmente pasmo. Como uma criança de dez anos de idade pôde me dar uma das maiores lições que tive na vida? Talvez a resposta para essa pergunta seja a de que nós adultos, responsáveis, experientes, vividos e metidos, sejamos tão prepotentes que na maioria das vezes não nos deparamos com as coisas simples da vida e esquecemos que um simples seriado de TV ou uma simples criança pode nos ensinar muito mais do que milhares de experiências errantes.

Contudo, posso não saber definir ao certo o que é o perdão, talvez ninguém saiba, mas uma coisa a minha prima me ensinou. Que o perdão é, antes de tudo, um ato de amor com o outro e com você mesmo.

 

(Sergio Rubens)


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