Tanta gente desocupada
Eu to muito, mas muito é
cansado
Cansado de tanto ter que
trabalhar,
De nunca sorrir e sempre eu
chorar
De viver sempre tão agoniado.
Eu ando feio e malamanhado
Procurando algo mais pra eu
fazer
Pra ver se melhoro mais meu
comer.
Vivo numa sociedade atrasada
Um monte de gente desocupada
E eu com tanta coisa pra
fazer.
Por isso eu digo que pobre
apanha!
Tenho quatro filhos pra dar
comer,
As que mostram sua bunda na
tevê
O mais fraco que come é a
picanha.
Eu vou levando a vida na
manha
Até o dia em que eu for morrer,
Pra meus filhos poder
sobreviver
Eu encontro no meio dessa
estrada
Um monte de gente desocupada
E eu com tanta coisa pra
fazer.
A vida é realmente muito
injusta,
Desde os dez anos que eu só
trabalho
Tem mês que num faço um só
salário,
Mas eu vou seguindo com a
minha luta.
Na escola eu tive boa
conduta
Mas uma mulher imbuchei pra
valer,
Aí tive que trabalhar pra
viver.
Ela era só mais uma outra
coitada
Um monte de gente desocupada
E eu com tanta coisa pra
fazer.
Mas vou seguindo aqui o meu
caminho
Topando o que der e o que
vier,
Vou pegar os meninos e a
mulher
E continuar bem devagarzinho
Pra ver se boto ordem no meu
ninho
Nesse país desigual pra
valer,
Mas ainda dá pra tentar se
desfazer
Há tanta coisa aqui mal
arrumada,
Um monte de gente desocupada
E eu com tanta coisa pra
fazer.
Acordo quatro horas todo dia
Pra poder começar a
trabalhar,
A minha mulher pra ter que ajudar
Lava roupa por uma minxaria,
E ainda tem que mostrar
alegria
Que é pra nossos filhos não
perceber,
Que é pra não faltar o que
comer
Que eu me meto num monte de
cilada.
Um monte de gente desocupada
E eu com tanta coisa pra
fazer.
(Sergio Rubens)